Relatos de Experiência

Conheça aqui a prática de professores no ensino do Teatro na educação básica! Compartilhe também a sua prática. Conte como foi realizado o seu trabalho em sala de aula de forma simples e didática e sirva de inspiração para outros professores.

 

O Teatro e a aula de História

Escrito por Brunno Vianna de Andrade
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Escola: Instituto 15 de Janeiro
Rede:  Particular
Cidade:Rio de Janeiro/ Olaria, RJ
Nível de Ensino: Ensino Médio

APRESENTAÇÃO:

Não  sou  formado  em  teatro,  mas  ele  sempre  foi  minha  paixão,  digo  como espectador, pois eu não me via em um palco, pelo menos até 2007, quando iniciei minha primeira oficina de teatro. Em 2009 comecei a faculdade de Licenciatura Plena em História. Com medo de não conseguir  conciliar,  abandonei  os  palcos.  Foi  durante  o  estágio  em um colégio particular do Rio de Janeiro que percebi o quanto ainda precisava do teatro. Voltei sem pensar duas vezes. Pela História saí do teatro e pela História retornei ao teatro.Em 2010, coube a mim a tarefa de escrever para Jornada Acadêmica de História doCentro Universitário Augusto Motta, uma peça que retratasse a História do Brasil. Vio quanto uma coisa pode complementar a outra. Desde que comecei a lecionar noInstituto 15 de Janeiro em 2013 (Olaria – RJ), busco utilizar o teatro nas salas de aula. Se ele contribuiu com o meu aprendizado,  pode contribuir com o aprendizado dos meus alunos.

A escola não tinha condições de levar os alunos para assistirem peças nem de contratar  atores  para  apresentações.  Além da  falta  de  verbas,  havia  a  falta  de espaço.  Os  alunos  também  não  tinham  condições  de  pagarem  ingressos caríssimos.  O teatro era uma experiência nova para eles e para a instituição. Por conta  disso,  comecei  trabalhando  temas  contemporâneos  e  fatos  rotineiros  das comunidades do Rio de Janeiro. É válido, por exemplo, preparar uma turma para apresentar uma cena que retrata as remoções de casas para urbanização. Isso gera um debate e dá um gancho para trabalhar as ações de Pereira Passos e até mesmo de D. João VI. Eu sempre tirava uns dez ou quinze minutos de minhas aulas para falar das peças que estavam em cartaz. Isso ampliou meu diálogo com os alunos,que passaram a tomar iniciativas e tirarem dúvidas. Alguns até davam sugestões de peças.

Tentei levar o teatro para todas as turmas da instituição, mas no supletivo, onde mais carecia de uma necessidade de aprendizagem, não deu para levar adiante, em consideração ao  longo  conteúdo programático  e  ao pouco  tempo de aula  e  decurso. No ensino regular,  por sua vez, o resultado foi  satisfatório,  sobretudo, no primeiro ano do Ensino Médio, onde o bom entrosamento permitia que as decisões fossem tomadas em conjunto e tivessem um melhor aproveitamento.

Pensando nos objetivos:

Costumo dizer que quem tem uma sala de aula tem um mundo, mas quem se permite ir além das salas de aula, tem vários mundos. A História, por si só, não se limita. Por que o ensino da História há de ser limitado, se podemos ensinar através da poesia, das obras de arte e do teatro? Minha intenção, a princípio era mostrar que o teatro como fonte histórica é riquíssimo, pois uma peça, por mais antiga que seja, sempre representa os valores de uma sociedade. Através do teatro, as aulas de História tornam-se mais dinâmicas, divertidas e menos cansativas. O teatro também melhora o convívio entre os alunos e trabalha a criatividade deles.

 

O processo

O primeiro passo do processo foi uma conversa para saber o que eles sabiam sobre teatro e como reagiriam se eu utilizasse o teatro nas aulas. Fiz relações entre a História e o teatro. Falei que Heródoto, conhecido oficialmente como o pai da História era grego e que Téspis, conhecido por muitos como o primeiro ator, também era. A recepção foi boa, mas para economizar tempo, optei por leituras e breves debates, com questionários para serem respondidos em casa. Fazia o meu planejamento com uma semana de antecedência. Procurava dentro do conteúdo programático, um meio de encaixar o teatro, levando em consideração os interesses dos alunos e suas dúvidas. Pesquisava jogos teatrais que incentivassem o trabalho de equipe e a contação de histórias e reduzisse a insegurança. O resultado era visto nas apresentações dos seminários.

Para trabalhar o Absolutismo, escrevi “O Estado Sou Eu”. Em apenas uma aula, os alunos fizeram uma leitura e depois comentaram, enfatizando as diferenças entre uma monarquia absolutista e uma república. Não limito o teatro às aulas História. Numa aula de Sociologia do primeiro ano do Ensino Médio, trabalhei “O Juiz”, esquete que escrevi com a temática do aborto. Em uma turma de terceiro ano, passei como trabalho de casa uma crítica sobre o espetáculo Favela – O Musical, considerando a realidade dos alunos, quase todos de baixa renda.

Apenas dois alunos compareceram. Alguns professores, por um breve momento, acreditaram que não daria certo, pois os alunos não estavam acostumados com o teatro. Eu precisava tentar. Como eles vão gostar de teatro se não conhecem o teatro? Eles precisavam conhecer.

É bom enfatizar que o processo de aprendizagem funciona a longo prazo e o apoio dos pais dos alunos, que acabou contagiando os demais professores e a instituição, foram fundamentais. Como os dois alunos gostaram do espetáculo, iniciei um debate acerca dos contrastes sociais. A partir do debate, mais alunos se interessaram em assistir a peça, que virou o comentário da semana no colégio. Com base na peça e nos debates, formulei as provas e testemunhei a melhora na qualidade textual dos estudantes e no poder de argumentação dos mesmos e o senso crítico. Gradualmente eles foram manifestando a vontade de apresentar um espetáculo que não foi concretizado porque precisei me afastar da instituição.

 

Refletindo sobre o seu trabalho

Sem dúvidas o teatro facilitou o processo de aprendizagem e aproximou de maneira ímpar todos os atores envolvidos neste processo (aluno, professor, pai / mãe e instituição). Alunos que sempre discutiam passaram a ter uma convivência melhor e aprenderam a trabalhar em equipe. É claro que isso não aconteceu rápidamente e não consegui concretizar todos os meus planos, já que não consegui levar o teatro adiante em determinadas turmas. A falta de dinheiro e de espaço e a descrença de outros profissionais que poderiam somar neste processo foram as maiores dificuldades. Além disso, não conseguimos apresentar um espetáculo. Ainda assim, estou satisfeito, pois um dois dos meus alunos resolveram fazer teatro, outros dois escrevem músicas e poemas. Se conseguirmos mudar a vida de um aluno é porque o trabalho não foi em vão.

 

Referência Bibliográfica

Para esta experiência, o meu pilar foi o "Teatro do Oprimido" de Augusto Boal. Utilizei Boal por dois motivos: ele defende o teatro para todos, independente da profissão que o indivíduo almeja. Além disso, Boal nasceu na Penha, bairro vizinho de Olaria, onde o colégio se localiza.

 

Bibliografia

BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras Poéticas Políticas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1970.

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